Os congos, fiés em Ipueiras que celebram a Congada, acreditam que o ‘dia dos mortos’ não é de tristeza, mas sim para celebrar a vida e a alegria dos que se foram. Na cidade o Dia dos Finados é celebrado com músicas e danças. A tradição chegou no Tocantins há mais de 300 anos. A dança feita durante a celebração teve origem na África e as cores utilizadas pelos fiés são em homenagem as santas almas benditas.
“A morte não nos separa de Deus, a morte é uma continuação da vida com Deus. E continuar com Deus é viver em festa, em alegria, é viver o amor. Não é porque estamos em um cemitério onde se sepulta que vamos viver esse momento com lágrimas ou com tristeza, mas vamos vivê-lo com alegria e com muito amor por uns aos outros”, explicou o padre Monsenhor Jones.
A preparação para a festança começa na noite anterior, na casa da sua majestade, o rei da Congada. Durante a programação, logo pela manhã, os fiés são acordados com música para anunciar que a chegada do Dia dos Finados chegou. Em seguida os congos se reúnem na casa do rei e da rainha, participam de um café da manhã com comidas típicas e vão em caminhada até o cemitério da cidade.
Neste ano, a rainha é representada pela Lívia Siqueira, que participa do festejo desde os 5 anos de idade e acredita que a festança “é um momento de fé e de resgatar a cultura”. Já o rei é representado pelo seu Durval Sacramento, que dança na ‘festa dos mortos’ desde os anos 1980.
Os congos percorreram 10 quilômetros pelas ruas da cidade até o cemitério. A chegada dos fiés foi debaixo de chuva, que emocionou ainda mais os devotos já que segundo a tradição, a procissão também costuma marcar o fim o período de estiagem.
“O início dessa festa foi por causa da seca na época, que juntou os moradores e passaram a rezar pedindo chuva porque as lavouras estavam se perdendo por causa da chuva”, explicou a participante Josefina Rodrigues.
Melquiades de Souza é guia dos congos e conta que pular em meio a chuva é motivo de muita alegria. “A chuva iniciou ainda lá na rua, eu tinha muito prazer e alegria de estar pulando o Congo com a água, com chuva, para mostrar o quanto a nossa fé é importante na vida do nosso povo”.
Há também quem participou da festança pela primeira vez. O advogado, José Francisco, saiu de Palmas e percorreu cerca de 120 quilômetros junto com a esposa para aproveitar a congada.
“Nós começamos a compreender que na verdade é uma tradição de Ipueiras, é uma homenagem aos mortos, aos parentes do povo de Ipueiras, e nós viemos com esse sentido, com essa fé cristã, nesse mesmo propósito”, disse.
A jornalista e professora, Sônia Pugas, também esteve na congada e aproveitou para levar o marido que é inglês, para conhecer a tradição.
“Ele gosta muito de manifestações culturais e essa aqui é uma expressão muito forte do Tocantins e com certeza vale muito a pena. Valeu muito a pena estar aqui. E pelo jeito a promessa se cumpriu. Estamos aqui em chuva, debaixo de chuva”.
A festança é finalizada com a missa. “Aqui não é simplesmente um lugar de se lamentar, é um lugar onde nós colocamos aqueles que viveram com alegria a sua fé”, comentou o padre.